Porque dizemos que Pa Kua é uma família?

Sérgio M. de Souza
5 min readJun 8, 2021

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A família na prática marcial chinesa

Na China, as artes marciais eram ensinadas principalmente em mosteiros budistas e taoistas, e âmbitos familiares. Essa é a razão de muitos de seus estilos serem reconhecidos, ou pelo sobrenome da família, ou pelo nome do mosteiro/região de onde foram desenvolvidos.

Por viverem nos mosteiros ou comunidades, os praticantes de arte marcial acabavam dividindo tudo — desde a alimentação à tarefas do dia a dia. Isso aumentava o sentimento de irmandade entre todos, independente dos discípulos terem ou não qualquer vínculo familiar.

Muitas comunidades treinavam arte marcial para se defender de invasores, ou como uma forma de desenvolvimento pessoal — e isso estreitava ainda mais esses laços “familiares” entre os membros daquele grupo.

A visão sobre sociedade de Confúcio

Confúcio falava sobre a importância de primeiro cultivar sua própria integridade moral e suas virtudes, para então manifestá-las por meio de sua relação com a família, comunidade e mundo.

A filosofia confuciana nasce em 500 a.C., época em que a China era dividida em pequenos estados que lutavam entre si. Olhando para isso, Confúcio entendeu que uma sociedade baseada em uma família metafísica seria o ideal para o desenvolvimento e convívio social da época. Nesse conceito, os pais guiam e educam seus filhos, que retribuem ajudando nos afazeres da casa e plantações. Para isso funcionar, o ensino do pai deveria ser sem repreensão ou severidade excessiva, para que seu filho o seguisse não por intimidação, mas pelo respeito e admiração.

Assim também deveriam agir os líderes, cultivando primeiro em si suas virtudes, para então inspirar o povo a seguir seus passos através do exemplo e respeito mútuo.

Pa Kua e os trigramas familiares

retirado do livro de 35 anos da Liga internacional de Pa Kua

Os oito trigramas foram concebidos como representações de tudo o que ocorre no céu e na terra. São símbolos que traduzem a transição dos fenômenos da natureza de um estado para o outro. O interesse do estudo não se concentra em compreender o universo de uma maneira fixa, mas suas transformações. Por tanto, os oito trigramas não são representações das coisas enquanto tais, mas suas tendências de movimento.

Essas oito imagens adquiriram múltiplos significados e eram associadas tanto a processos da natureza, quanto a processos das condições humanas e da sociedade. Relacionando as características, como por exemplo, em uma família — composta de pai, mãe, três filhos e três filhas, pode-se encontrar as funções e os distintos papeis que uma pessoa pode ter em relação à sua família, comunidade, trabalho, etc.

Família Pakuana

Foto nas aulas abertas em Balneário Camboriú de 2019

Dentro da Liga Internacional, o conceito de família começou com o encontro do Mestre Rogélio Magliacano com o Mestre I Chang Ming. Mestre Magliacano percebeu que a prática da arte marcial vai muito além do combate físico, e possibilita a evolução do indivíduo como um todo, e no seu aprendizado de Pa-Kua descobriu que o nosso maior oponente sempre será nós mesmos.

Ao retornar à Argentina e formar a Liga Internacional de Pa-Kua, o Mestre fez questão de não colocar competições dentro da escola, pois acreditava que a cooperação entre os praticantes seria muito mais proveitosa para o desenvolvimento individual e de todo o grupo.

Isso se mostra tanto na prática dentro do tatame — como vimos no artigo sobre as graduações, onde os alunos mais antigos buscam ajudar os mais novos em seu desenvolvimento.

Quanto também no cotidiano, fora do tatame, onde as escolas e seus praticantes cooperam entrem si, ajudando uns aos outros e a comunidade de diferentes formas possíveis.

Ao longo dessa pandemia, esse suporte tem sido essencial: com aulas no formato online, escolas puderam contar com instrutores de outras cidades para ajudar a se manter; também tivemos doações do mundo inteiro para ajudar no tratamento de companheiros de prática; além de podermos contar uns com os outros para seguirmos positivos em um período tão desafiador.

Isso acontece de forma muito natural dentro da escola, faz parte de sua essência ser essa grande família, onde todos se ajudam com repeito em busca do desenvolvimento individual e do todo.

Na visão da Liga Internacional, um verdadeiro Mestre é aquele que busca primeiro em si a melhora necessária para depois inspirar os outros através do seu exemplo. Para isso, é necessária uma busca constante de evolução e aprendizado.

Mestre Emanuel

Toda família precisa de exemplos a serem seguidos, pessoas as quais nos inspiramos para o nosso próprio aprimoramento, e o Mestre Emanuel foi esse exemplo. A real definição de MESTRE, e aqui o homenageamos por isso. Sua meta pessoal era tornar o mundo um lugar melhor para o seu filho, e via no Pa-Kua uma ferramenta para ajudá-lo nessa missão. Por acreditar sermos uma grande família, ajudava todos que podia, sempre se preocupando com o bem de quem estava em seu entorno.

Dentro da sua carreira em Pa-Kua, era muito solícito e companheiro, sempre contagiando a todos com sua alegria e bom humor. Sua partida foi cedo demais para nós que não estávamos preparados para sua ausência. Mas não ficamos sozinhos, pois seus ensinamentos nos acompanham, assim como a lembrança do grande Mestre que ele foi, e seguirá sendo, a partir do legado que nos deixou.

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Sérgio M. de Souza
Sérgio M. de Souza

Written by Sérgio M. de Souza

Praticante e professor na Liga internacional de Pa Kua

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